cova do vapor

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No fim do Rio Tejo há a Cova do Vapor. Foi aldeia de pescadores, tornou-se aldeia balnear, hoje em dia é aldeia balnear, piscatória e suburbana. Em cinquenta anos foi empurrada mais de meia dúzia de vezes pelo mar para dentro da Mata de S. João; o seu povo andou com a casa às costas, em cima de tractores.

Desde os finais da década de 40, registaram-se importantes recuos da linha de costa entre a Cova do Vapor e a Costa da Caparica (somente entre 1947-1951 desapareceram 500m).







"Cuidada e delicada, feita de afectos que não marcam os bairros degradados das periferias, a Cova do Vapor está longe de ser um bairro de lata ou uma aldeia igual às outras. É uma povoação singular, é um lugar onde tudo é diferente, sem escola, centro de saúde ou vestígio de serviço público, um lugar contraditório, uma relíquia de excepção."

"São construções mais ou menos precárias, encavalitadas umas nas outras, expoentes de engenho e desenrascanço, às vezes sem se perceber onde é que começam umas e acabam as outras.

São casas e casinhas, com apenas duas ruas de terra batida, onde estão as poucas lojas da terra, capazes de deixar passar carros; mas o labirinto dos caminhos serpenteia por todo a parte, com largura apenas para os assadores, para os canteiros da salsa e dos coentros, para um tanque de roupa ou um duche apertado. Às vezes ainda há espaço para umas couves, umas flores, umas árvores de fruto, armários, estendais, e inventivas garagens e anexos de casas."


[in CEREJO,José António Cerejo, Uma Relíquia Chamada Cova do Vapor, PÚBLICO, 28/04/2002. Tabulação no texto por Geografismos]








"Depois do 25 de Abril houve aqui um certo desordenamento, mas também o houve em todo o país e ainda bem", explica Guilherme Pais, admitindo a existência de "abusos" nesse período inesquecível. "Em certa altura até já estavam a construir uma pensão na mata. Teve de cá vir o Copcon [força militar dirigida por Otelo Saraiva de Carvalho no Verão de 1975] deitar tudo abaixo."

"O meu sogro era dono do Bar Atlântico e teve de mudar a casa sete vezes", lembra um dos residentes. "Quando o mar começou a comer isto, aqui há uns cinquenta anos, as barracas de madeira que estavam a um quilómetro do Bugio tiveram de ser arrastadas por juntas de bois. O Manel da Fruta é que mudava as casas. Umas desmontavam-se, outras vinham inteiras", lembra Hernâni Pereira, o presidente da Associação de Moradores."


[in CEREJO,José António Cerejo, Uma Relíquia Chamada Cova do Vapor, PÚBLICO, 28/04/2002. Tabulação no texto por Geografismos]

Em 2002 o jornalista José António Cerejo recenseou os seguintes números: Casas: cerca de 350, das quais umas 90 habitadas em permanência; Habitantes permanentes: cerca de 200; Sócios da Associação de Moradores: à volta de 400.

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