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Carlos Fiolhais acusou o facilitismo descarado numa Prova de Física (contar os oito planetas identificados no enunciado).
Obviamente temos de facilitar: alunos que resistem a trabalhar, uma disciplina que tem uma imensidão de conheciementos para adquirir e apenas um bloco de aulas por semana (um ano tem em média 33 semanas de aulas) e escolas a exigirem um «sucesso escolar» a tender para o 100%. Já repararam que esta disciplina, à partida exigente, raramente tem insucesso no geral das escolas portuguesas?... Em Geografia há muito que nos acontece o mesmo e com a agravante de não termos apenas metade dos alunos como em Ciências.
A dinâmica numa sala de aula portuguesa mediana é equiparável à ida a um jogo de futebol: conversa-se alto, interrompe-se com gracejos, sai-se do lugar, briga-se, e só se trabalha após múltiplas chamadas de atenção do docente e recados na caderneta («avisos» genéricos à turma não contam pois são considerados como «um momento de delírio do professor» em que ninguém se revê).
O valor «auto-disciplina» e «superação de si mesmo» são cada vez mais desconhecidos dentro da sala de aula (e pouco usado na vidinha de todos os dias). O «normal» é não ler muito, não escrever muito mas esperar excelentes resultados.
As famílias e os professores dissipam as suas energias em conflitos internos. O tempo escoa-se em querelas sem significado. Estamos concentrados a detectar e denunciar erros ou opções de vida que não nos dizem respeito. Ficamos satisfeitos com os fracassos e problemas de terceiros (que por vezes suscitamos).
A avaliação docente continua uma inutilidade mas com consequências. «Docente» era até há pouco um dos poucos lugares da função pública com contratação isenta de amiguismos. Cada vez menos. A lógica do sistema escolar impede que pais e directores de escola procurem a qualidade (a curto prazo serão prejudicados se não optarem pelo facilitismo e o amiguismo).
Professores contra professores, pais contra professores, funcionários contra professores, alunos contra professores e tudo contra todos. «Selvagem» disse-me um amigo, e pai, sobre as reuniões de pais numa escola de «élite» em Almada. A única preocupação é com a obtenção de classificações elevadas sem ligação com os conhecimentos («competências», vá) adquiridos pelos filhos. Imensos casos disciplinares sacudidos para cima uns dos outros. Por todo o país será assim e tudo está silenciado.
Acusações bizarras a professores e funcionários. Mentiras e confusão alimentadas pela irresponsabilidade ou conivência de alguns, com todos a assobiar para o lado... A palavra de um aluno com um histórico de disparates conta mais do que a palavra de um professor.
A necessária «cooperação» entre professores tende a desaparecer. Ninguém empresta materiais, tendemos a esconder de todos o nosso trabalho com os alunos (já repararam que todos os «moodles» estão fechados ao público por passwords?... logo o moodle que foi criado para ser uma plataforma aberta...).
Modernização e apetrechamento tecnológico fugaz. Ontem a minha aula com o 9ºC foi ao ar: o projector atarrachado ao tecto foi roubado no fim de semana (infelizmente já é uma banalidade) e a aula preparada para discutir o documentário "Uma verdade inconveniente" (o terceiro e último «anexo» do período) quase ia à vida. Apesar de continuar a usar o meu pc, a minha net, os meus materiais, continuo sempre a ser surpreendido numa escola tecnologicamente intervencionada e, portanto, supostamente equipada.
A irrelevância do conhecimento. O uso na sala de aulas de informação actual e de fontes credíveis é facilmente descurado (em Geografia, História ou Filosofia, nota-se mais). Raramente se cultiva o acesso às melhores fontes; o uso das regras de citação e referenciação (elementos essencias no conhecimento e procedimento científico) não são trabalhados e desconhece-se a existência de normas internacionais (standards) que poderiam ser trabalhadas logo nos bancos de escola. Em geografia o uso dos SIG (sistemas de informação geográfica), meios electrónicos ou documentários de excelência nas salas de aula é quase impossível ou, mais comum, é mal-visto (ainda acontece com frequência a censura de não usar-se sistematicamente e exclusivamente o manual da disciplina).
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